Fichas vazias

CLÁSSICOS DA LITERATURA NUNCA FORAM RETIRADOS NA BIBLIOTECA PÚBLICA DE POMERODE

 

As fichas cadastrais vazias fixadas no interior dos livros revelam: obras de Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Lima Barreto e Graciliano Ramos nunca foram retiradas da Biblioteca Pública Municipal de Pomerode. Na contramão, best sellers como Harry Potter e Crepúsculo não param nas estantes. Há reservas até março. A contradição suscita reflexões sobre os hábitos de leitura e o esquecimento dos clássicos.

Entre os livros que nunca foram retirados da biblioteca estão Quincas Borba, O Cortiço, O Triste Fim de Policarpo Quaresma e Vidas Secas. Clássicos da literatura estrangeira também integram a relação, como Crime e Castigo, do escritor russo Fiódor Dostoiévski, e O Nome da Rosa, do italiano Umberto Eco. Para a professora da Furb e doutora em Teoria Literária Maria José Ribeiro, a Tuca, a leitura dos clássicos é importante não só para ampliar o horizonte intelectual, mas a visão da humanidade.

– Os clássicos são impactantes para a vida. São narrativas que abordam sentimentos humanos e auxiliam na própria formação da personalidade do leitor. Uma literatura mais corriqueira, da moda, não deixa marcas, é um passatempo – conclui.

Mas a professora lembra que a leitura dos best sellers pode estimular o interesse por outros livros. A bibliotecária responsável pela Biblioteca Pública Municipal de Pomerode, Viviane Balk Herrmann, atribui o desinteresse pelas obras clássicas à facilidade de baixá-las pela internet. Para despertar o interesse da população pela biblioteca, a unidade desenvolve ações como feira do livro, hora do conto e biblioteca móvel.

Na avaliação do professor da Furb e mestre em Literatura Carlos Silva da Silva, o problema da leitura começa na escola, com a necessidade muitas vezes de um único professor se dedicar à gramática, literatura e redação, impossibilitando um trabalho aprofundado. Mas, lembra Silva, os pais também são responsáveis. Ele defende que a prática da leitura seja incentivada respeitando cada fase. Uma das estratégias seria trabalhar a contação de histórias, com as séries iniciais.

– Para muita gente, ler é algo penoso. Por conta desse desinteresse, há um desconhecimento da própria história do país. Ler Machado de Assis, por exemplo, é compreender o pensamento brasileiro do século 19 – argumenta.

magali.moser@santa.com.br

 

MAGALI MOSER

Fonte: Jornal de Santa Catarina

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